O mais recente lançamento em escala global da marca já está no Brasil, importado do México. Por mais que não pareça, ele chega para fortalecer a linha de SUVs da marca por aqui, localizando-se entre o HR-V e o CR-V (novo chega em janeiro de 2024). Agora, seria o novo Honda ZR-V o carro certo na hora certa? Fui conhece-lo na Banzai, em Belo Horizonte (MG), e gostei de muitas coisas. Mas esperava mais.
Baseado na plataforma global usada no Civic, o modelo se destaca pelo espaço interno, visual esportivo e por parecer menos um SUV e mais um hatch médio – o que me agrada. Ele chega com três anos de garantia, sem limite de quilometragem, sendo vendido em versão única, Touring, sem opcionais, por salgados R$ 214.500.
O diferente da família
O ZR-V chama atenção pelo design. Sua dianteira foge do padrão atual da Honda, amplamente visível no HR-V e no City. A grande grade, em formato de colmeia e com detalhes em preto brilhante, é ladeada por tomadas de ar, que direcionam o fluxo pelo para-choque e ao redor das rodas dianteiras, melhorando a eficiência aerodinâmica. O teto conta com soldagem a laser, que eliminou a necessidade de molduras longitudinais. Já os limpadores de para-brisa se escondem sob a linha do capô quando não estão em uso.
A novidade tem linha de cintura baixa, que começa no capô alongado e segue até a ondulação dos para-lamas traseiros. O conjunto ótico frontal, com faróis full LED, e as lanternas traseiras, inspiradas no City hatch, valorizam a largura do modelo. Ainda atrás, o aerofólio de gosto duvidoso dá continuidade ao teto. As rodas são de liga leve de 17″ com pintura cinza e acabamento diamantado.
Mas e o resto da família?
Perguntei para o pessoal da Honda:
Por que o ZR-V não segue a mesma linha de design do City e do HR-V?
O modelo foi pensado para ter um design único, alinhado ao conceito de potencializar a identidade de seus proprietários. Conforme ilustramos durante nossa apresentação, seria como aquela roupa do nosso armário que escolhemos quando queremos nos sentir especiais. É um design único e não significa obrigatoriamente ser uma direção a ser refletida em futuros modelos da marca.
No geral, gostei do visual do Honda ZR-V, embora dianteira e traseira pareçam um pouco “deslocadas” uma da outra. Mas o conjunto me agradou!
Por dentro do Honda ZR-V
Internamente, de cara, notamos que os principais elementos de design da Honda – algo comum entre as marcas. O console central do ZR-V é “flutuante” e abriga a alavanca de câmbio e o botão do freio de estacionamento.
A horizontalidade do painel do veículo é marcada pelo elemento com textura de colmeia, que cria uma “linha divisória” entre a central multimídia e os controles da climatização, ocultando as saídas de ar que se integram discretamente ao painel.
Segundo a Honda, uma atenção especial foi dada à operação dos controles, incluindo força e resposta tátil de botões, hastes de comando e interruptores.
Volante
O volante multifuncional regulável em profundidade e altura é revestido em “couro” e conta com controles de áudio, telefone e de configuração do veículo no raio esquerdo e do controle de cruzeiro e o seletor de informações do carro no raio direito. O volante ainda conta com paddle-shifts para troca de marchas.
Bancos
Os bancos dianteiros, com comandos elétricos, contam com um sistema de estabilização corporal. Mesmo em mim, que sou bem mais alto do que a média das pessoas, oferece apoio lombar e pélvico – meu corpo agradece em deslocamentos mais longos.
Atrás, o banco também é confortável. O revestimento dos bancos é em “couro” e pode preto ou cinza, dependendo da cor da carroceria.
Ponto de visão
O motorista tem um ponto de visão elevado que, no ZR-V, foi maximizado pelo recuo das colunas A e pelo posicionamento dos limpadores de para-brisa situados fora do campo de visão quando desligados. A visibilidade ainda é favorecida pelos espelhos retrovisores montados na porta.
Não dirigi o carro, infelizmente. Mas, se a sensação de visibilidade for a mesma do HR-V, será ótimo para a maioria dos motoristas, e péssimo para os motoristas mais altos,
Equipamentos
Entre os itens de série, destaque para:
- teto-solar elétrico
- ar-condicionado digital dual zone
- chave inteligente Smart Entry
- botão start-stop
- função Brake Hold
- espelho retrovisor interno fotocrômico
- luzes de leitura eletrostáticas (com acionamento por toque)
- sistema multimídia de 9″ compatível com Apple CarPlay e Android Auto
- carregador de celular por indução
- quatro portas USB-C (duas na dianteira e duas na traseira) e uma USB-A na dianteira.
myHonda Connect
No quatro de instrumentos, o novo integrante da família Honda tem uma tela TFT digital colorida e personalizável de 7″ à esquerda e velocímetro analógico à direita. São múltiplas as funções selecionáveis pelo usuário, como configurações do Honda SENSING.
Para completar a oferta tecnológica, o ZR-V também possui o myHonda Connect, plataforma de conectividade da marca. O sistema entrega informações, segurança e controle do veículo conectando o motorista ao seu carro via aplicativo no smartphone.
As principais funções do myHonda Connect são:
- notificação automática de colisão
- detecção remota de falha
- alarme de segurança
- localização do veículo estacionado
- painel de informações do veículo
- rastreamento do veículo em movimento
- controle geográfico
- alerta de velocidade
- assistência 24h
- controles remotos (como acionar ar-condicionado, ligar o motor do carro, destravar e travar portas)
- dados de últimas viagens
- manual digital do proprietário
- agendamento de serviços.
myHonda Connect: grátis X pago
Estão disponíveis dois pacotes do myHonda Connect. O primeiro é totalmente gratuito, bastando baixar o aplicativo e se cadastrar para ter acesso a boa parte dos serviços.
Já o pacote Plus será pago e dará acesso a todas as funcionalidades. Inicialmente, o Pacote Plus será gratuito, uma vez que a Honda está oferecendo um ano de degustação aos seus clientes.
Espaço
Ao vivo, o ZR-V parece menor e mais baixo do que ele realmente é. As dimensões do SUV (4,568 m de comprimento, 1,840 m de largura e 2,655 m de entre-eixos) resultaram em uma cabine que surpreende pelo espaço para os ocupantes, mesmo com o teto-solar. Veja no vídeo abaixo.
Por outro lado, o carro não conta com o Magic Seat. Quando o assunto é espaço para bagagem, o porta-malas deixa a desejar com apenas 389 litros – muito pouco para a categoria. Pelo menos os encostos dos bancos traseiros são bipartidos 60/40 e, quando rebaixados, possibilitam um volume de até 1.306 l.
Dinâmica do Civic
Baseado na plataforma do Civic, o ZR-V, de acordo com a Honda, apresenta comportamento dinâmico e dirigibilidade típicos de um sedã – só dirigindo mesmo para saber.
Diversos itens são herdados do Civic, como o sistema de direção elétrica, que conta com sensor de torque. Ele mede o esforço no volante feito pelo motorista e uma central eletrônica determina o nível de assistência elétrica específica para a ocasião, resultando em uma sensação de direção natural e contínua.
Suspensão
O ZR-V tem suspensão dianteira do tipo MacPherson e traseira multilink, ambas com subframe de alumínio, priorizando leveza e resistência. O subframe dianteiro e os amortecedores traseiros são oriundos do Civic, enquanto o subframe traseiro e as pinças de freio frontais são herdadas do CR-V.
Ruídos
Na suspensão como um todo foram usados componentes elásticos de baixo atrito para otimização do funcionamento e redução do índice de NVH – Noise, Vibration, Harshness (ruído, vibração e aspereza).
O novo ZR-V tem ainda diversos pontos da carroceria com a aplicação de materiais fonoabsorventes, para barrar sons de diferentes frequências e intensidades. Além disso, o modelo possui para-brisa acústico, com uma membrana de polímero com elevada capacidade de isolamento sonoro.
Motor decepcionante
O Honda ZR-V é equipado com o novo motor 2.0 16V DOHC i-VTEC somente a gasolina. Com duplo comando no cabeçote com VTEC na admissão e VTC na admissão e no escape, o carro desenvolve 161 cv de potência a 6.500 rpm e 19,1 mkgf de torque a 4.200 rpm.
De acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), o consumo é de 10,2 km/l na cidade e 12,1 km/l na estrada. Se comparado com o motor 2.0 do Civic de 10ª geração, este novo motor é até 11 cv mais potente (150/155 cv do sedã, que vence em torque: 19,3/19,5 mkgf), além de apresentar menor índice de emissões.
Transmissão CVT na aceleração
A transmissão do tipo CVT foi ajustada para evidenciar a performance e o baixo nível de ruído e vibração. A sensação de rápida resposta ao acelerador foi aprimorada pelo Step-Shift, que simula mudanças de marcha em situações de condução esportiva.
Com o acelerador pisado a fundo (kick-down), a central de gerenciamento eletrônico do CVT coordena as trocas nos pontos fixos das marchas, acentuando a sensação da mudança e, consequentemente, de esportividade.
Na descida
Já o EDDB (Early Downshift During Braking) visa conter o ganho de velocidade em descidas. Em declives, ao detectar o acionamento do freio, o CVT automaticamente fixa uma das marchas simuladas, promovendo o efeito de freio-motor. A ação do EDDB amplia a segurança sem afetar o consumo.
Mas por que usar o motor 2.0???
Por mais interessante que seja esse novo motor 2.0 16V, usá-lo agora vai contra tudo o que a Honda vinha fazendo no Brasil. Padronizar a motorização dos seus veículos otimizava custos de produção e facilitava o acesso a peças de reposição. Afinal, despois de anos com 1.4, 1.5, 1.5 turbo, 1.8 e 2.0, hoje, ou o carro é 1.5 flex aspirado, ou é 1.5 turboflex – propulsor que deveria ter sido usado no ZR-V.
Honda responde
Perguntei então para a Honda:
Por que não adotar o motor 1.5 turbo flex no modelo?
Todo produto e seus atributos são pensados para um perfil de consumidor, nesse sentido o ZR-V entrega uma direção refinada e uma relação peso potência similar aos competidores de seu segmento, se mostrando muito competente para atender com satisfação a demanda do mercado. Sendo um 2.0 oriundo da família do Civic Type R e também do Accord 2.0 Turbo da geração anterior, tem recebido ótimas avaliações e feedbacks inclusive no exigente mercado norte-americano. A aplicação do motor 1.5 turbo no HR-V, por sua vez, visa um perfil diferente de cliente, mais voltado para a esportividade.
Outra percepção que tive ao ver o novo veículo na concessionária Banzai, que cuidava dos meus Hondas, foi o tamanho do cofre do motor do ZR-V. Por conta disso, perguntei também à marca:
Vi que o cofre do motor é grande para o propulsor 2.0, visivelmente pronto para uma versão híbrida. Teremos, no futuro, o ZR-V híbrido no Brasil?
No momento, os modelos que trazem a exclusiva motorização híbrida da Honda, o sistema e:HEV, são Civic, Accord e, em breve, o CR-V de nova geração. Porém, a Honda segue com sua análise constante do mercado, a fim de manter a sua sintonia fina com os desejos e necessidades do consumidor.
Em outros mercados, o ZR-V é vendido com o mesmo conjunto híbrido do Civic, permitindo que o SUV tenha atinja os mesmos 184 cv e 32,1 mkgf, com consumo urbano na casa de 18 km/l. Um dia teremos essa versão por aqui, mas sem data ainda.
Honda SENSING
Como acontece com os irmãos, o ZR-V também está equipado com o Honda SENSING, “pacote” de tecnologias de segurança e assistência ao motorista, que se baseia nas informações detectadas pela câmera de visão grande angular e um microprocessador de imagem de alta velocidade.
As principais funções do Honda SENSING são:
- Controle de cruzeiro adaptativo (ACC): auxilia o motorista a manter uma distância segura em relação ao veículo detectado à sua frente. No ZR-V, o sistema atua junto ao Low Speed Follow, que permite a manutenção da distância mesmo em baixas velocidades;
- Sistema de frenagem para mitigação de colisão (CMBS): aciona o freio ao detectar uma possível colisão frontal com o objetivo de mitigar acidentes;
- Sistema de permanência em faixa (LKAS): detecta as faixas de rodagem e ajusta a direção para manter o veículo centralizado nas linhas de marcação;
- Sistema para mitigação de evasão de pista (RDM): detecta a saída da pista e ajusta a direção com o objetivo de evitar a sua evasão e possíveis acidentes;
- Farol alto automático (AHB): comuta automaticamente do facho baixo para o alto de acordo com a situação.
O ZR-V possui ainda diversos outros equipamentos de segurança:
- 8 airbags (frontais, laterais, cortina e joelhos)
- assistente de controle de descida (HDC)
- assistente de partida em aclive (HSA)
- assistente de tração e estabilidade (VSA)
- sistema de luzes de emergência em frenagens severas (ESS)
- alerta de pressão dos pneus (TPMS)
- monitor de atenção do motorista
- LaneWatch (assistente para redução de ponto cego)
- sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
- câmera de ré multivisão com linhas dinâmica
- sistema ISOFIX de fixação de cadeirinha infantil, entre outros.
Cores
O ZR-V será oferecido em sete opções de cores. Três delas são novas no portfólio da Honda: Azul Aurora Perolizado, Cinza Titanium Perolizado e Vermelho Adrenalina. As demais são Branco Topázio Perolizado, Preto Cristal Perolizado, Prata Platinum Metálico e Cinza Barium Metálico.
A cor do revestimento interno varia em função da cor da carroceria. Para as cores externas Azul Aurora Perolizado, Cinza Titanium Perolizado e Branco Topázio Perolizado, o interior será Cinza Claro. Para as demais cores de carroceria, o revestimento interno será preto.
Resumo da obra
Gostei mais do que eu imaginada do ZR-V. Mas, ao mesmo tempo, esperava mais do modelo. Ele chegou na hora errada, alguns anos depois do que devia.
Começando pelos pontos positivos: espaço interno, beleza (carro é muito mais bonito ao vivo, mas isso é subjetivo) e segurança. Ele tem qualidades para brigar com os concorrentes diretos.
Decepção
Por outro lado, porta-malas, preço e, principalmente, motor 2.0 à gasolina decepcionaram bastante. Uma versão 1.5 turbo faria muito mais sentido. E, por R$ 10.000 a menos, valeria vender o ZR-V sem teto solar, como a Volkswagen faz com o reestilizado Tiguan Allspace R-Line.
Agora é saber quantas unidades do modelo será importadas por mês pela Honda e seu o público vai animar pagar R$ 215.000 por ela. Sensação de que, infelizmente, teremos um início ruim de vendas, como aconteceu com o Civic Hybrid.
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Fonte: De Zero a Cem