É lugar-comum no Brasil dizer que o ano só começa a valer após o Carnaval. No caso do mercado automotivo, porém, há um pé na realidade, uma vez que grandes lançamentos de 2024, inclusive de pelo menos 20 carros elétricos inéditos, estão marcados para ocorrer a partir dos próximos dias, ainda que a Audi já tenha dado o pontapé inicial.
É sabido que 2023 foi um ano de recorde de vendas de eletrificados, com quase o dobro do volume de 2022: foram 93.927 emplacamentos (alta de 91%).
Calculando apenas os modelos 100% elétricos (BEV), o Brasil vendeu 19.310 unidades de janeiro a dezembro, alta de 56% em relação a 2022.
Mas não deve haver redução neste ritmo, mesmo com aumento do imposto de importação para carros elétricos em 2024, uma vez que praticamente todos os grandes grupos automotivos terão novidades, ao passo em que a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) espera emplacamentos de mais 150 mil unidades neste período, representando nova expansão de 60%.
Novo ano, novas promessas
Há inclusive um “incentivo” para quem ainda não se decidiu por colocar um modelo elétrico na garagem. A chinesa BYD, que abalou o mercado local em 2023 com seu Dolphin, emplacando ao todo 10.274 unidades, promete ampliar sua participação ao trazer o Dolphin Mini, que deve ser o carro elétrico mais barato do Brasil.
Mas também há promessa de novidades das grandes fabricantes, como Chevrolet (da norte-americana General Motors) e Fiat (do grupo euro-americano Stellantis), bem como modelos premium de empresas alemãs e sul-coreanas e mais uma nova leva de competidores chineses.
Tem até veículo comercial na lista, mais uma ação da Fiat para este ano.
Lembrando que este “calendário” considera apenas modelos inéditos, não incluindo simples versões de modelos que já foram lançados.
É bom apontar, também, que a lista não está fechada, uma vez que o total de novidades certamente será ampliado no decorrer das próximas semanas. Então, é bom ficar, com o perdão do trocadilho, ligado. Veja a lista dos carros elétricos programados para chegar ao Brasil em 2024:
Janeiro
- Audi SQ8 Sportback e-tron: a marca premium do Grupo Volkswagen “queimou largada” com o SUV-Cupê esportivo, que traz o rótulo de modelo mais forte da marca no país e preço de R$ 834.990 (ou R$ 850 mil com câmeras no lugar dos retrovisores externos). São três motores elétricos gerando 503 cavalos de potência e 92,20 kgfm de torque. O desempenho prometido é de 4,5 segundos para ir de 0 a 100 km/h, com máxima limitada em 210 km/h. Em relação às versões anteriores, há uma ampliação da capacidade de bateria para 114 kWh (ganho de 20%), com autonomia de 296 quilômetros, segundo o Inmetro, além de recarga de até 80% em 30 minutos. A marca, porém, deve ter mais novidades no restante da temporada em que celebra 30 anos no Brasil.
Fevereiro
- BYD Dolphin Mini: para abalar mais ainda um mercado que já viu BYD Dolphin e GWM Ora 03, chega a vez daquele que é chamado de Seagull na China, estreando em 28 de fevereiro. Além do nome diferente na origem, muda a série, saindo da linha marinha (Dolphin é “golfinho” em inglês) para a aérea (Seagull é “gaivota”), algo que indica propósitos de mercado diferentes, além de diferenças de visual e acabamento. Segundo rumores, o subcompacto deve ter uma versão custando menos de R$ 100 mil, para ser o hatch elétrico mais barato do país. Se cumprir, pode ser apontado como carro do ano. Como o Renault Kwid já foi reduzido a R$ 99.900, há quem especule etiqueta abaixo de R$ 99.800 para o modelo chinês. Neste caso, vai ser não só o elétrico mais barato do país, como também ser mais em conta que versões de topo de modelos compactos flex bons de loja, como Hyundai HB20, Chevrolet Onix e Volkswagen Polo. O Dolphin Mini tem 3,78 metros de comprimento, com 2,50 m de espaço entre-eixos, ou seja, é 10 cm maior que o Kwid, mas com o mesmo espaço interno dos rivais maiores. Aparentemente, serão duas versões de sistema elétrico, com baterias de 30 kWh (autonomia de 300 quilômetros, no ciclo-padrão chinês) ou 38,8 kWh (indo aos 400 km), com motor elétrico entregando 75 cavalos de potência e 14,9 kgfm de torque, dados que podem ser readequados ao nosso mercado pelo Inmetro.
Março
- BMW i5: a nova geração do sedã grande premium Série 5 abre o ano para a marca alemã no Brasil. Além da rivalidade com Mercedes-Benz Classe E, que prevê muita tecnologia e conforto, esta nova geração traz ainda novo perfil sustentável, com materiais reciclados e opção elétrica. Assim, o i5 M60, variante com maior performance, que entregará 598 cv e torque instantâneo de 83,7 kgfm, permitindo 0-100 km/h em menos de 4 s para a carroceria de 5,06 m.
Abril
- Seres 7: esse SUV médio chinês é um projeto da Dongfeng (controladora da Seres) com a gigante da tecnologia Huawei, chamado de Auto M7, na China, onde vendeu mais de 100 mil unidades desde setembro. No Brasil, o 7 chegará em abril com seus 5,20 m de comprimento (que rivaliza com SUVs maiores) e 2,82 m de entre-eixos (porte interno de médios), com estilo que mistura Mitsubishi Pajero Sport com Volkswagen Tiguan. A configuração é elétrica com extensor, ou “híbrida fechada” (que não movimenta as rodas) para puristas, com tração integral, sistema elétrico Huawei ADS 2.0 (dois motores-geradores) aliado a um motor 1.5 a gasolina, que serve apenas como extensor de autonomia.Ao todo, são 448 cv e promessa de 1.300 km de alcance. Não há preço fechado, mas deverá ficar acima da faixa dos R$ 500 mil.
Maio
- Volvo EX30: o modelo de entrada da marca premium foi apresentado em 2023, quando começou a pré-venda por iniciais R$ 219.900, mas só começa a desembarcar agora em 2024. Totalmente desenvolvido na China (projeto da Geely, dona da sueca Volvo Automóveis), tem três versões que vão de 272 cv (alcance de 250 km) a 428 cv (338 km máximos). A ideia da marca é entregar 10 mil unidades até dezembro.
Segundo trimestre
- Porsche Macan 2024: a segunda geração do SUV médio premium alemão será totalmente elétrica, feita sobre a nova plataforma PPE (Premium Platform Electric), de Porsche e Audi, com arquitetura de 800 V (que permite potências elevadas, com velocidade de recarga alta). Como ocorre atualmente, haverá diferentes versões, mas neste primeiro momento chegam a Macan 4 e Macan Turbo, entregando de 408 cv a 639 cv, com torque gigante, típico de elétrico, de 66,2 kgfm a 115,2 kgfm, respectivamente, permitindo acelerações de 0 a 100 km/h entre 5,2 segundos e apenas 3,3 s. A marca ainda promete novidades entre os eletrificados, a começar pela nova geração do SUV grande Cayenne Hybrid e do sedã executivo Panamera Hybrid.
Primeiro semestre
- Kia EV9 GT Line: apresentado para a América Latina, no Chile, em novembro, o elétrico sul-coreano para 7 passageiros (como o atual Carnival) ainda não tem versões e datas definidas, apenas a janela ainda dentro do primeiro semestre. Fabricado sobre a Plataforma Modular Global Elétrica (E-GMP), da Hyundai-Kia, usa arquitetura elétrica de 800V (como modelos da Porsche e Audi) e baterias de quarta geração, que permitem que o EV9 também use sua carga para alimentar equipamentos e até uma casa, com 3,68 kW. Configuração de tração traseira tem bateria de 76,1 kWh e motor de 218 cv, ou de 99,8 kWh e 204 cv pata autonomia maior (540 km, WLTP). Com tração integral, usa bateria de 283 kW e motor de 384 cv, torque acima dos 61 kgfm, autonomia de 497 km, permitindo um 0-100 km/h em até 5,2 s. Bancos da segunda fileira podem se reclinar e até girar no próprio eixo em 180 graus, ficando de frente para os bancos da terceira fileira (formato “lounge”). No total, são 5,01 m de comprimento e 3,10 m de entre-eixos. Preços não estão definidos.
- SERES 5 EVR: este outro modelo da Dongfeng com a Huawei já pode ser reservado desde 2023, mas será lançado apenas este ano. O porte é médio, com vantagens (4,70 m de comprimento, maior que o Chevrolet Equinox, por exemplo), terá configuração inicial com um motor dianteiro, além da 4WD com a mesma descrição do Seres 7. Preços, ainda a serem definidos, devem orbitar a faixa dos R$ 400 mil.
- Abarth 500e: sub-compacto esportivo será o terceiro da marca de performance da Fiat no Brasil, depois de Abarth Pulse e Abarth Fastback. Eficiência é garantida pelo motor elétrico dianteiro de 154 cv (contra os 118 cv do Fiat 500e, vendido desde 2021) e 24 kgfm de torque, permitindo 0-100 km/h em 7s. Bateria de 42 kWh prevê autonomia de 253 km no ciclo WLTP. Preço deve ficar acima de R$ 300 mil.
- Omoda/Jaecoo: a Chery Internacional prepara nova investida no Brasil, desta vez sem participação da Caoa. São duas sub-marcas do grupo, que ainda terão nomes e linhas definidas para nosso mercado, mas que prometem chegar a partir da primeira metade de 2024.Os planos são de abrir pelo menos 40 lojas até o final do ano. Quanto aos produtos, um dos modelos é o SUV compacto 5 (Omoda C5 na China), que terá uma configuração elétrica, outra a combustão. No caso da primeira variante, que nos interessa aqui, são 200 cv, 35,7 kgfm de torque e bateria de 61 kWh, prevendo 450 km de autonomia (ciclo WLTP). Depois, devem chegar modelos da linha Jaecoo de porte maior.
Segundo semestre
- Audi Q6 e-tron: segundo modelo da plataforma PPE (Premium Platform Electric), será um “primo-irmão” do Porsche Macan. Além do Porsche, terá porte similar ao do Volkswagen ID.4, para rivalizar com Volvo XC40 e C40. Foco será no conforto e tecnologia embarcados, com três telas no painel, bem como versões que rendem de 387 a 489 cv de potência. Nesta variante mais potente, poderá ter modo de largada (launch control), chegando temporariamente aos 517 cv para cumprir os 100 km/h em 4,5 s.
- BMW iX2: a nova geração do X2, carroceria acupezada do X1 (4,55 m de comprimento, com 2,69 m de entre-eixos), será lançada globalmente em março, tanto na configuração a combustão, quanto na elétrica. Ambas serão importadas da Alemanha para o Brasil, em data ainda indefinida. No caso desta segunda, inicialmente se espera apenas opção mais forte, com dois motores, como ocorre com o X1, com 313 cv e até 450 km de alcance no ciclo WLTP.
- Chevrolet Equinox EV e Blazer EV: a dupla de elétricos foi apresentada pela GM à imprensa brasileira em 2023, fez parte da conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro, durante anúncio de investimentos de R$ 7 bilhões para o país, mas há problemas. Lançado nos EUA em setembro, o Blazer (que é um modelo compacto, sem ligação com o SUV derivado de picape que o Brasil produziu antigamente), teve diversos relatos de defeitos no sistema elétrico em dezembro, levando à interrupção da produção. O modelo, aliás, pôde ser visto no filme “Barbie”: era o crossover azul da trama. Já o novo Equinox EV só terá a fabricação iniciada em março, na unidade de Ramos Aripe (México), o que facilita os trâmites de importação ao Brasil. Assim, ambos devem desembarcar apenas no final de 2024, se nenhum novo empecilho surgir, uma vez que o mercado norte-americano precisa ser abastecido primeiro.Feitos sobre a base elétrica Ultium, com bateria de 66,9 kW, ambos têm versão com um motor elétrico (218 cv) ou dois motores (AWD, 294 cv), com 0-100 km/h de 7,9 s ou 5,9 s. Preços ainda estão indefinidos.
- Fiat E-Ducato Furgão: a chegada da nova geração do utilitário é uma informação, ainda de bastidores e com base em fontes, do site jornalístico especializado em flagrantes automotivos Autos Segredos, como forma da marca italiana se posicionar frente a possíveis movimentos de Renault e Mercedes-Benz, principais rivais. Lançado na Europa, o furgão tem versões a diesel, bem como com motor elétrico, este entregando 121 cv, torque de 28,5 kgfm, e podendo ser equipado com baterias de 47 kWh (três módulos) ou de 79 kWh (cinco módulos). Autonomia é de 235 a 370 km no ciclo WLTP.
- JAC Yiewi 3: a primeira fabricante chinesa com alto volume de vendas no Brasil também tem planos para 2024. Já flagrado na cidade de São Paulo, este novo hatch compacto elétrico tem faróis “conversando” com Mini Cooper, enquanto a traseira lembra o Citroën C3 de geração anterior vendido na Europa. Já disponível na China e sul da Ásia, o Yiewi 3 certamente terá outro nome no Brasil, mas a capacidade deve permanecer. São duas configurações, sendo a primeira de 95 cv e 405 km de autonomia no ciclo chinês (NDEC).Na segunda, potência de 136 cv e autonomia indo a 505 km.Interior se destaca com visual minimalista, à exceção da exagerada tela multifuncional de 15 polegadas.Dimensões são interessantes, com 4,02 m (em linha com HB20 e Onix), com entre-eixos de 2,62 m (similar a SUVs e sedãs compactos).
- Kia EV6: o SUV-cupê é “primo-irmão” do Hyundai Ioniq 5, sendo outro modelo da plataforma E-GMP. Só que este crossover está “caindo de maduro” em nosso país. Lançado globalmente em 2022, está em testes e exibições no país desde o começo de 2023, deveria ter sido lançado no final do ano passado, mas não foi. Oficialmente, a Kia diz que será “o primeiro de seis modelos a chegarem até 2026”. Acontece que o EV9 parece ter prioridade. De toda forma, o EV6 tem altura de Toyota Corolla, tamanho de Jeep Compass e espaço interno de Jeep Commander, com porta-malas de 490 litros. Na configuração de topo, GT Line com bateria de 77,4 kWh e dois motores elétricos, pode entregar 585 cv, 75 kgfm de torque e esportividade ampla, com 0-100 em 3,5 s.
- Seres 9: chamado de Aito M9 na China, foi apresentado por lá em dezembro e deve chegar ao Brasil apenas no final do ano. O porte é grande, com 5,23 m de comprimento, mais 3,11 m de entre-eixos, que impressionam no papel. Visual dianteiro lembra modelos da BYD, como o SUV Song Plus, bem como o Tesla Model 3, enquanto traseira é mais conservadora. Na cabine, porém, muita tecnologia, seja de segurança (9 airbags) ou interatividade (são 3 telas no painel, além de monitores individuais para os ocupantes dos bancos traseiros). Em termos de motorização, para a China há opções puramente elétricas (motores-geradores dianteiro e traseiro de 272 cv e 224 cv, respectivamente), bem como a tecnologia com extensor 1.5 a gasolina, que prega autonomia total acima dos 1.400 km. Preço é, novamente, indefinido, mas também ficará acima do patamar do meio milhão de reais, caso do Seres 7.
- Volvo EX90: SUV grande de luxo para 7 pessoas feito sobre a plataforma SPA2 é outro modelo atrasado globalmente. Primeiro modelo da marca a ser fabricado nos Estados Unidos (Ridgeville, Carolina do Sul), o EX90 pode acabar com a linha do XC90.Terá dois motores elétricos, potência combinada de 517 cv, torque acima dos 92 kgfm e complexo sistema de auxílio condutor, com sistemas autônomos de Nível 3. Traduzindo, permite que motorista apenas acompanhe os movimentos do carro, na rodovia, assumindo o volante apenas se a situação pedir. É essa complexidade do sistema autônomo, que será um dos trunfos do EX90, que provoca o atraso na produção global. Ainda que prometido para o Brasil, só deve chegar no apagar das luzes de 2024, se não sofrer novos atrasos.
Fonte: CNN Brasil Auto